17 de fev. de 2011

Altar Particular

Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular

Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal

E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós

Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós

Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser
Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer

Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor

Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta ao que chamo de amor



Essa música é de interpretação e autoria de Maria Gadú. Essa informação me chocou de início porque a cantora se tornou adorada da mídia e, normalmente quem explode assim tem por trás grandes compositores e tem apenas uma voz distinta. Mas não, além da voz original e maravilhosa (como é o estilo da cantora fora do palco) ela criou, além dessa composição, várias outras de uma inteligência sublime que espero poder mostrar aqui com o tempo.

Essa mulher traduziu um sentimento comum (não entrarei no mérito se é real ou não). É aquela sensação: meu coração não me obedece. Quero amar quem me ama, quero me envolver com quem me oferece uma vida a dois. E querer não basta.
Pra mim, a explicação está aí, nas entrelinhas. Maria afasta a responsabilidade desse tipo de decisão dela, transferindo o poder de libertar seu coração para um outro alguém que não se sabe quem. Como se um indivíduo - ou, na minha opinião, vários - retirassem seu coração se circulação pelo tempo que acharem suficiente.
Não dá pra negar. Por mais que a gente saia mais machucada do que machuque, a gente machuca também. E transferir a liberdade do próprio coração para esses outros corações partidos é genial, porque faz sentido.
A questão é... porque o meu altar particular não tem esse tom de vodu que deixa quem amei, ou ainda amo, sem liberdade pra amar mais ninguém?
Eu peço, devolva meu coração. Eu peço, resolva cuidar dele e canonize-o. Já paguei preços infinitos de dor, solidão, carência e desejo.

Pra finalizar, ela muda de cenário e une a distância eterna do tempo que tornou sua tristeza normal, com a vida, que vai passando no vazio... Estando com tudo a flutuar no rio esperando a resposta. A resposta ao que chama de amor.

Faço das tuas palavras as minhas, Gadú.
Espero que quem colocou meu pobre coração no altar me devolva a autonomia que eu preciso pra viver tudo que eu preciso viver antes que o frio impere.



Meninas, estou olhando pra uma lua cheia maravilhosa com saudade de vocês e com tanta coisa pra falar. Tanta bobagem e tanta coisa importante. Eu preciso de vocês mais perto. Relaxem, a liberdade desse amor ninguém pode tirar de mim.