Frio: atração turística.
O Rio tem o Corcovado, Salvador tem o Pelourinho, Fernando de Noronha tem as praias, o Amazonas tem a floresta. Cada região possui um foco de interesse para estimular o turismo: natureza, monumentos, teatros. Em Porto Alegre, onde vivo, tem tudo isso também – até praia! -, mas é o que menos se divulga. Nossa atração turística é peculiar. O pessoal não vem pra cá pelos nossos espetáculos ou por nosso patrimônio histórico. Eles vêm pra cá pra conhecer de perto este tal de inverno.
Entre numa agência de turismo e procure um cartaz divulgando o Sul. Invariavelmente você encontrará uma foto mostrando vinho, fondue e lareira, a composição fotográfica que virou nosso Pão de Açúcar. A promessa feita é “você vai sentir frio!! Brrrrr.” Para muitos brasileiros do Norte, isso é tão inusual como é para nós o fenômeno da pororoca.
São curiosas as reportagens que se fazem com turistas recém-chegados ao Sul, especialmente com os que se deslocam para a serra gaúcha, onde estão Gramado e Canela. Por mais belezas naturais que essas cidades ofereçam, o que eles mais comentam não é sobre o que seus olhos vêem, mas sobre o que sua pele sente. E o que eles sentem é um frio de rachar, de enrijecer os ossos, de congelar mandíbulas. É aí que a viagem se paga. O adolescente que veio do Recife fica perplexo com a fumacinha que sai da sua boca. A moça que veio de Alagoas telefona pra mãe para contar que está vestindo gorro, casacão, cachecol e luvas, jura por Deus. O casal que veio de Goiânia tira dúzias de fotos segurando toda a neve que conseguiu juntar e que cabe na palma da mão, uma coisa ralinha, quase imperceptível, mas eles se sentem em meio a uma nevasca. Não há suvenir mais cobiçado.
Há fartura de sol neste Brasil abençoado por São Pedro. E dá-lhe biquíni, cerveja, samba, futebol, surfe, tudo o que compõe nosso cartão postal oficial. Já o Rio Grande do Sul, pra quem é do Sudeste pra cima e pros lados, não é o Brasil oficial. É terra estrangeira onde é possível experimentar sensações térmicas abaixo de zero. É onde o inverno não acontece numa manhã do mês de agosto, e sim uma estação que dura três inteirinhos. É o Brasil que troca o chinelo-de-dedo pela bota de couro, o tomara-que-caia pela gola rulê, a displicência pela elegância. Sai o Brasil escaldante, entra o Brasil freezer. Sai o Brasil multicolorido, entra um Brasil gris, com uma atmosfera de cinema europeu. Um Brasil com cara de Brazil.
Aqui de Porto Alegre mando notícias pro Brasil com s: temos praia, mulatas, samba, cerveja e um verão tórrido, aliás, de derreter concreto. Mas neste instante faz 11 graus lá fora, os sobretudos escondem os corpos, é a época ideal para aquecerem-se uns nos outros e de ficar na frente do fogo - e não raro de fogo: não esqueça que o vinho é tinto, farto e premiado. Se é nessas condições que somos mais atraentes, então que se cumpra o destino de sermos novidade para os sem-inverno. Venham descobrir que somos apenas o Brasil que faz frio, não um Brasil sem calor.
Faço minhas as palavras de Martha Medeiros, bem propícias para o momento.. o dia é frio, o vinho está bom e um filme me aguarda.. saudade de vcs garotas! tem brigadeiro pra todas aqui!
Obrigado pela visita. Sabem que não é preciso parecer para ser... ;)
ResponderExcluirVisto que ao julgar-se algo pelo que parece, perde se a oportunidade de descobrir e entregar-se à algo sem idéias pré dispostas...
tal qual nosso belissímo, complexo e recheado município.
Que esconde muito mais do que aparentemente possui. Estejamos atentos e dispostos.