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Foi assim que o homem mais bonito do mundo, cobiçado por 10 entre 10 mulheres (e 10 entre 10 homens), se materializou naquele primeiro entardecer. Horas mais tarde, com o rosto deitado na minha coxa esquerda, ele perguntou:
- Você pode dormir aqui comigo?
Sim, poder eu podia, mas me pergunte se eu dormi. Claro que não. O homem mais bonito do mundo enrolado no meu corpo como um dragão chinês e eu com os olhos estatelados, sentindo no meu pescoço sua respiração de homem-divindade a comprovar a existência daquele instante. A manhã deveria pôr as coisas no lugar. Mas não pôs.
Poder eu podia, mas me pergunte se eu tinha fome. Nenhuma. Quando fui embora pensei que vivera uma noite de exceção e que ao acordar, tudo, até meu queixo vermelho, voltaria ao normal. Mas não voltou.
O homem mais bonito do mundo entrou na minha vida como um trator a quem eu, terreno baldio, recebi atônita. Passei a viver num perpetuo estado de alerta que poderia ser considerado paixão, doses cavalares de sibutramina ou espanto (era espanto). Passei também a desejar ardentemente sair daquele estado. O que você faz quando alguém irrecusável se esparrama sobre você sem reservas e o que você faz quando esse esparramar não te causa nenhum conforto e o que você faz quando ele te draga mais e mais para um rodamoinho de tormento? Você reza. Eu rezei. Rezei para que aquilo acabasse logo, para que ele se encantasse com outra, para que ele tivesse de fazer um filme no Nepal, qualquer coisa que o afastasse de mim. Ele havia sugado toda a minha saliva e não restara réstia na minha boca para articular o que eu mais queria dizer: “Me deixe, por favor”.
Foi então que aconteceu: eu me acostumei a sua beleza de deus. Me acostumei a ver seu corpo perfeito de carnes e músculos inundar a cama, me acostumei com Shakespeare no original, me acostumei com aquele sotaque lânguido, os mantras no último volume, o sexo interminável.
(...) Eu tive o homem mais bonito do mundo – agora posso ter quem eu realmente quero."
Stella Florence
Só uma crônica que me passou pela cabeça hoje à tarde...
Uma boa sexta-feira pra quem tem companhia quando precisa, quando quer e quando não quer também.
Beijos, Amy
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